Síndrome do Intestino Irritável
Esclarecendo o Problema
A Síndrome do Intestino Irritável é um problema relativamente comum, atingindo cerca de 10% a 20% da população mundial em qualquer faixa etária, mas, principalmente, indivíduos entre 15 e 45 anos, com predominância em mulheres.
A patofisiologia da doença, ou seja, os mecanismos que geram os sintomas, está relacionada a diversos fatores, entre eles estão anomalias na contratilidade intestinal, como aumento da frequência e da intensidade das contrações, hipersensibilidade visceral, que consiste no desequilíbrio da resposta das paredes intestinais ao contato com as substâncias oriundas da alimentação, gerando distensão intestinal e sensação de inchaço, e inflamação intestinal através de mecanismos imunológicos, que pode estar relacionada à intolerância alimentar.
Como a intensidade das manifestações desta doença é muito variável, alguns indivíduos acabam não procurando atendimento médico, e aqueles que procuram geralmente já apresentam sintomas muito intensos, que prejudicam as atividades diárias. Entre os sintomas mais comuns da Síndrome do Intestino Irritável, encontram-se os seguintes:
Diarréia: consiste na evacuação de fezes amolecidas ou liquefeitas pelo menos três vezes por dia, ocorrendo, geralmente, pela manhã ou após alguma refeição e frequentemente precedida de urgência, ou seja, de uma sensação súbita de necessidade de evacuação.
Constipação: apesar de uma das causas da Síndrome do Intestino Irritável ser o aumento da frequência das contrações intestinais, alguns indivíduos apresentam constipação como principal sintoma. A constipação consiste na dificuldade crônica de evacuação, que, quando ocorre, geralmente consiste em fezes endurecidas, escuras e pequenas e costuma ser acompanhada de tenesmo (sensação de que a evacuação não foi completa mesmo quando não há mais fezes no ânus);
Dor ou Desconforto Abdominal: Dor de barriga, especialmente no lado esquerdo, e sensação de inchaço abdominal, especialmente após alguma refeição, são sintomas comuns na Síndrome do Intestino Irritável e ocorrem tanto nos indivíduos em que predomina a diarréia quando nos indivíduos em que predomina a constipação;
Um fator importante a ser ressaltado é que esta doença não apresenta um caráter maligno, ou seja, não está relacionada a câncer. Ainda assim, em alguns indivíduos, os sintomas da Síndrome do Intestino Irritável podem ser confundidos com sintomas de câncer do aparelho digestivo e, por isso, é preferível que se descarte uma doença maligna nos pacientes que apresentarem, além dos sintomas da Síndrome do Intestino Irritável, os fatores de risco abaixo:
- Idade de Início de Sintomas após os 50 anos;
- Sangramento Retal ou Melena (presença de sangue digerido e extremamente fétido nas fezes);
- Diarreia Noturna;
- Dor Abdominal Progressiva;
- Perda de Peso súbita e inexplicada;
- História de câncer colorretal na família;
Evitando a Crise
Os sintomas da Síndrome do Intestino Irritável costumam ter uma característica flutuante, ou seja, costumam ir e voltar ao longo dos anos, sendo as recidivas geralmente associadas à ingestão de algum alimento específico ou a períodos de estresse. Estes dois fatores são extremamente importantes e o controle deles pode reduzir e até eliminar completamente os sintomas da doença.
Controlando a alimentação: Não há uma regra geral para as dietas. O mais importante, nos casos de Síndrome de Intestino Irritável, é que o indivíduo identifique quais os alimentos que desencadeiam as crises e que, a partir de então, comece a evitá-los e, quando necessário, busque auxílio profissional para que consiga substitutos adequados destes alimentos para a dieta.
Os alimentos mais frequentemente associados à Síndrome do Intestino Irritável são aqueles que contêm grande quantidade de gorduras, sorbitol (um açúcar presente, entre outros, na maçã, na pêra, no pêssego, em bebidas fermentadas e em alimentos dietéticos), leite e derivados, café, bebidas alcoólicas, chocolate, enlatados e grãos. Vegetais e alimentos ricos em fibras podem ser prejudiciais, na medida em que podem aumentar a produção de gases, mas, também, podem ser extremamente benéficos, especialmente nos indivíduos em que a constipação é o principal sintoma.
Há, porém, algumas orientações que frequentemente auxiliam todos os indivíduos com esta Síndrome. São elas:
- Alimentar-se fracionadamente (ou seja, em pouca quantidade, mas várias vezes ao dia);
- Ingerir bastante líquido, especialmente água e, preferencialmente, não junto às refeições;
- Evitar alimentos ricos em gorduras;
- Ingestão de verduras e de alimentos ricos em fibras, especialmente em indivíduos com constipação. Inicialmente, pode predominar desconforto abdominal devido ao aumento da produção de gases, mas, a médio ou longo prazo, este efeito tende a diminuir e a constipação tende a reduzir consideravelmente. Nos indivíduos em que predomina a diarreia, os alimentos ricos em fibras também podem ser benéficos, na medida em que aumentam o volume das fezes devido à maior retenção de água, contribuindo para que as evacuações ocorram menos frequentemente e em maior quantidade;
Controlando o estresse: o estresse, seja ele qual for, é um fator extremamente importante para o desencadeamento das crises, e seu controle é fundamental para a redução dos sintomas. Infelizmente, isso nem sempre é fácil, e pode exigir o auxílio de profissionais capacitados, como psicólogos ou psiquiatras especializados.
No entanto, existem algumas orientações gerais que costumam auxiliar todos os indivíduos que sofrem com estresse. Entre eles, estão as seguintes:
- Realização de exercícios físicos regulares e adequados à faixa etária;
- Utilização de técnicas de relaxamento, como yoga e meditação;
- Inserção de intervalos regulares de pelo menos 5 minutos nas atividades diárias, durante os quais deve-se realizar atividades que promovam algum tipo de distração, como músicas e leitura;
- Momentos de lazer são importantes e devem fazer parte da rotina de todos, independentemente de profissão ou idade.
Tratamento Farmacológico: atualmente, existem medicamentos que podem ser capazes de ajudar e pelo menos aliviar os sintomas da Síndrome do Intestino Irritável em indivíduos que não conseguem controlar as crises através dos métodos citados acima. A adoção deste tipo de tratamento deve ser, sempre que possível, reservada para casos mais greves e a escolha dos medicamentos adequados deve ser muito bem definida e discutida com os profissionais envolvidos no tratamento.
Finalmente, é importante que o indivíduo com Síndrome de Intestino Irritável siga as orientações de seu médico e que, na medida do possível, procure se informar ao máximo a respeito de sua doença, sempre esclarecendo com um profissional especializado quaisquer dúvidas que possam surgir. A Síndrome do Intestino Irritável é uma doença que pode comprometer consideravelmente a qualidade de vida daqueles afetados por ela, mas que, com um tratamento adequado, pode ser perfeitamente controlada.